É tão comum ouvir assuntos de bioética se relacionando com religião que chegamos inevitavelmente a concluir que a decisão de ser favorável ou não ao aborto depende unicamente do credo que se professa. Nada mais falso.
Não se trata de obediência a uma doutrina, a uma norma eclesiástica, nem tampouco a total inobservância de tais diretrizes o que faz uma pessoa se posicionar adequadamente aqui. Trata-se de uma questão anterior a própria religiosidade, que parte da própria condição de sermos e existirmos como ser humano, esse animal racional que pensa, decide e age livremente.
E quais seriam então as principais razões contra o aborto? Vejamos algumas:
1) Desde 1839 a ciência reconhece que a vida humana se inicia na concepção. Não existem tratados de embriologia que neguem esse fato.
2) Este embrião que está vivo, cresce com autonômia, tem sexo definido, é completo e se desenvolverá até a sua morte a partir de tudo o que já possui agora.
3) Como todo ser humano o nascituro só precisa de três condições para seguir sua vida: oxigênio, nutrição e tempo. Retire algo e ele (e nós) morreremos.
4) A vida intra-uterina é apenas uma das etapas do desenvolvimento de um ser humano, assim como a infância, a adolescência, a idade adulta e idosa. Eliminar qualquer etapa significa encerrar as demais fases futuras de uma mesmíssima vida.
5) Se o feto não é algo, mas gente, pessoa humana, possui uma vida que o pertence e a mais ninguém, não pode ser disposto arbitrariamente portanto.
6) Ainda que o nascituro esteja temporariamente dentro do corpo de sua mãe, ele não é parte deste corpo. Numa gestação temos duas vidas e dois corpos.
7) 50% dos bebês abortados são mulheres, o que demonstra que o aborto não é instrumento de defesa feminino.
8) Se existe direito ao aborto temos real direito a matar qualquer um, a diferença será apenas a idade da vítima.
9) Todo aquele que existe, incluindo os próprios defensores do aborto, vive porque teve acesso primeiramente a um direito à própria vida já estabelecido.
10) Se cada ser humano advém de uma fase fetal, só podem existir direitos humanos se garantido primeiro o direito a própria vida. Nenhum direito pode existir para o homem se o homem não tem garantia nem de vir a nascer.
Lembra-nos ainda Jerôme Lejeune, fundador da citogenética clínica: "A Genética Humana se resume a uma afirmação elementar: No início há uma mensagem, essa mensagem está contida na vida, essa mensagem é a vida, e se essa mensagem é uma mensagem humana, logo essa vida é uma vida humana". A única diferença no reconhecimento deste fato, perante cristãos e as demais pessoas, será no maior comprometimento moral dos cristãos na defesa desta vida nascente em decorrência da justa obediência ao 5º mandamento, "não matarás".
Portanto, se temos em mente que o nascituro é gente (como nós), goza de dignidade intrínseca pelo fato de ser da raça humana (como nós), possui uma vida que só pertence a ele mesmo (como nós), como pode ser possível compactuar com atos que exterminem-o sem colocar em xeque nossa própria existência?
Em prática: aborto em caso de gravidez não planejada? Se este feto é gente, tem direito de viver, como seus pais. Aborto em caso de família pobre? Se este feto é gente, tem direito de viver, como todo pobre. Aborto em caso de estupro? Se este feto é gente, tem direito de viver, como a mãe que também é inocente. Aborto em caso de má-formação? Se este feto é gente, tem direito de viver, como toda pessoa doente. Legalizar o aborto porque muitos já o cometem? Se este feto é gente, temos que legalizar o homicídio porque muitos também o cometem. Não há brechas. Ou todos são iguais e possuem o direito de viver, ou ninguém o tem. Pense a respeito.
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